A região metropolitana de Tampa Bay, com três milhões de habitantes, está em alerta máximo para o possível impacto da tempestade.
O Centro Nacional de Furacões dos EUA (NHC, por sua sigla em inglês) informou que, ao meio-dia desta quarta, Milton teve ventos máximos sustentados de 230 km/h.
“Está previsto que o Milton continue sendo um grande furacão extremamente perigoso quando atingir a costa centro-oeste da Flórida esta noite”, alertou o NHC.
Os preparativos e evacuações “deveriam ter sido concluídos esta manhã”.
Milhões de pessoas já deixaram áreas de risco com ordens de evacuação obrigatória em 15 condados da costa oeste da Flórida.
As autoridades alertaram que, se não o fizerem, poderão perder a vida.
“É uma questão de vida ou morte”, disse o presidente americano Joe Biden.
E Milton é um dos furacões mais poderosos que já surgiu no Golfo do México e além.
“A tempestade explodiu em força e intensidade a um ritmo quase recorde, tornando-se um dos furacões mais intensos já registrados na bacia do Atlântico”, segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA, por suas siglas em inglês).
Existem vários fatores que explicam os motivos que o levam a ser um furacão tão perigoso; entenda abaixo.
1. As águas quentes do Golfo
Ao contrário de outros furacões que surgiram na região equatorial do Atlântico ou do Caribe, o Milton se formou no Golfo do México, onde foram registradas temperaturas da superfície da água mais altas do que o normal.
Um dos elementos básicos para a formação de ciclones é a temperatura quente das águas oceânicas. Se ultrapassarem os 27°C, têm condições ideais para combinar com ventos, vapor de água e mudanças de pressão.
Neste verão, as temperaturas da água no sul do Golfo do México (onde o Milton se formou) e no oeste do Caribe estiveram 1°C acima da média, em 29,5°C. Isto se deve em parte a uma onda de calor este ano, mas muitos especialistas observam que também faz parte de um padrão mais amplo de aquecimento dos oceanos do planeta.
E quanto mais alta for a temperatura, maior será a quantidade de calor e umidade que os furacões podem absorver.
“É como se eles estivessem jogando mais lenha no fogo”, disse a NOAA.
2. Intensificação rápida
O Milton foi formado com categoria 1 na tarde do dia 5 de outubro, quando seus ventos ultrapassaram 119 km/h. Mas em pouco menos de 24 horas se intensificou para a categoria 5, registrando ventos máximos sustentados de 285 km/h.
O fato de o Milton ter apresentado tamanha intensificação em um curto período surpreendeu os especialistas. Apenas os furacões Wilma (2005) e Felix (2007) passaram mais rapidamente da categoria 1 para a 5 em menos de 24 horas.
Mesmo quando atinge a categoria 3, os ventos e tempestades do furacão permanecem muito perigosos.
“O Milton tem potencial para ser um dos furacões mais destrutivos já registrados no centro-oeste da Flórida”, alertou o NHC.
O meteorologista John Morales, um especialista que monitora condições meteorológicas extremas na Flórida há décadas, disse à BBC que “o ângulo de abordagem [de Milton] é extremamente incomum”.
“Em geral, os furacões vêm do oeste do Caribe e atingem a costa oeste da Flórida em ângulo oblíquo. Já esse vem do oeste do Golfo do México e se espera que se aproxime de forma bastante perpendicular à costa oeste da Flórida.”
“E isso fará com que a tempestade aumente ainda mais.”
3. A perigosa tempestade que se antecipa
Os próprios ventos e chuvas fortes têm o potencial de ser muito destrutivos onde quer que um furacão atinja a costa. Na verdade, os especialistas consideram que as inundações criadas por estes ciclones são mais destrutivas do que os próprios ventos.
Mas a costa oeste da Flórida enfrenta uma situação de risco adicional devido à geografia da sua costa, que é rasa, o que favorece tempestades. Assim, nesta costa, os furacões têm força para impulsionar “colunas de água” para o interior.
Além disso, as centenas de lagos, nascentes, pântanos e outros corpos d’água do estado são afetados por chuvas e ventos fortes que se movem ciclicamente em torno da tempestade, causando inundações consideráveis.
As ondas de tempestade podem se deslocar vários quilômetros para o interior, atingindo zonas remotas da costa, como aconteceu com o furacão Ian em 2022.
Os modelos atuais indicam que a onda criada pelo Milton pode chegar a 4,5 metros, algo raramente visto nos registros, embora possa variar dependendo da intensidade final com que o ciclone atinge o continente.
“É esperado que seja uma grande emergência hídrica em termos de tempestades, inundações de água salgada e, claro, chuvas que causarão inundações. Sem falar na tempestade de vento, que também causará graves danos às estruturas”, alertou Morales.
4. O seu enorme tamanho
O Milton atingirá uma importante faixa costeira do oeste da Flórida, mas suas faixas de nuvens e ventos também deverão cobrir uma grande área do estado, à medida que seu tamanho aumenta conforme se move pelo Golfo do México.
“O Milton deve interagir com uma frente ainda esta noite, o que provavelmente fará com que o campo de vento se expanda no lado noroeste do furacão”, observou o NHC.
“Isso provavelmente causará ventos muito fortes e tempestuosos, mesmo ao norte de onde Milton atinge a costa”, disse ele. “Ventos prejudiciais, tempestades com risco de vida e chuvas fortes se estenderão muito além do cone previsto.”
Assim como aconteceu há algumas semanas com a passagem do furacão Helene pelo sudeste dos Estados Unidos, quando um ciclone é grande, as chuvas extremas duram muito tempo nos locais que estão no seu caminho.
5. Seu impacto depois do Helene
O noroeste da Flórida ainda está se recuperando do impacto do furacão Helene, que deixou mais de 200 mortos no nordeste dos Estados Unidos.
Nas áreas da Flórida impactadas pelo Helene, ainda existem centenas de edifícios destruídos cujos destroços podem se tornar objetos perigosos se forem levados pelos ventos do Milton.
Milhares de moradores afetados também devem agora enfrentar uma nova emergência enquanto tentam reparar as suas casas ou empresas, tornando a resposta de emergência mais crítica para as autoridades.
E há muitos locais que ainda estão parcialmente inundados pela água da Helene, porque o solo não tem conseguido absorver a precipitação devido à saturação.
“A forma como as cidades são projetadas, construídas e desenvolvidas influencia muito a sua capacidade de drenar a água”, disse Helen Hooker, meteorologista da Universidade de Reading, no Reino Unido.