Uma semana após o ataque do Hamas na manhã de 7 de outubro, quando 1,3 mil pessoas foram mortas por membros do grupo palestino e ao menos 126 foram feitas reféns, o saldo de mortes em Gaza por bombardeios de retaliação israelenses chegou a 2,4 mil pessoas este domingo.
Além disso, segundo as autoridades palestinas, cerca de mil pessoas estão desaparecidas em escombros de prédios bombardeados. Mais de 1,1 milhão de palestinos que vivem no norte de Gaza estão evacuando a região para fugir do iminente ataque das tropas israelenses por terra.
Após o ataque de 7 de outubro, Israel impôs um cerco ainda mais duro a Gaza, cortando o fornecimento de água, energia elétrica e alimentos. Apenas neste domingo, o governo israelense anunciou a retomada parcial de fornecimento de água no sul do território.
Juliette Touma, diretora da UNRWA, agência da ONU de assistência aos refugiados da Palestina, classificou o momento como “o pior que já vimos”.
“Está chegando ao fundo do poço. Isso é Gaza sendo empurrada para o abismo, há uma tragédia se desenrolando enquanto o mundo assiste. As pessoas estão aterrorizadas”, disse Touma à BBC News.
“Eliminar o Hamas”
Neste domingo, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou ter conversado com o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas, opositor do Hamas.
Biden reiterou “que o Hamas não defende o direito do povo palestino à dignidade e à autodeterminação”.
Biden também falou sobre o fornecimento de ajuda humanitária a Gaza, em meio às negociações diplomáticas para que a entrada de ajuda seja permitida.
“Garanti (a Abbas) que estamos trabalhando com parceiros na região para garantir que os suprimentos humanitários cheguem aos civis em Gaza e para evitar que o conflito se amplie”, disse Biden no X (antigo Twitter).
Já Mark Regev, conselheiro sênior do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, rejeitou as críticas dos organismos humanitários de que algumas das ações de Israel poderiam constituir crimes de guerra.
Sobre as vítimas em Gaza, ele afirmou: “Esses números são divulgados pelo Hamas… Não há distinção entre combatentes e não-combatentes.”
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, tem afirmado que a ofensiva irá “eliminar o Hamas” e o lema voltou a ser repetido neste domingo após a reunião do governo israelense, que instalou um gabinete de guerra.
O chefe de gabinete de Netanyahu, o ministro Gideon Sa’ar, apareceu na TV dizendo que o Hamas deve ser destruído “para que nunca mais possa ameaçar Israel”. Ele acrescentou que isso serviria de lição para a região.
Gideon Sa’ar também afirmou que a Faixa de Gaza, onde vivem cerca de 2,2 milhões de palestinos, “deve acabar ficando menor” – com Israel assumindo o controle de um cinturão de terra no leste e no norte da faixa.
Esta seria uma “zona de segurança” e qualquer pessoa que entrar seria “interceptada” pelos militares, segundo Sa’ar, acrescentando que essa é uma opinião pessoal dele.
Conflito no Líbano e declarações do Irã
Os últimos dias também foram de aumento da tensão regional. Na fronteira de Israel com o Líbano, houve novos e intensos combates entre soldados israelenses e membros da milícia Hezbollah, aumentando o temor de que o conflito possa envolver outros países. Ocorreram diversos tiroteios, segundo relato de Hugo Bechara, repórter da BBC na região.
Um homem de 40 anos foi morto em um ataque com mísseis guiados do Hezbollah na comunidade de Shtula, no norte do país, segundo os serviços de emergência israelenses.
Há receio de que o Líbano, sede do Hezbollah, grupo apoiado pelo Irã, possa ser arrastado para o conflito.
O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, afirmou que o país “não tinha interesse” em uma guerra com o grupo.
“Se o Hezbollah escolher o caminho da guerra, pagará um preço muito alto. Muito pesado. Mas se o grupo se contiver, respeitaremos isso e manteremos a situação como está”, disse.
No mesmo domingo, porém, Gallant anunciou que as forças israelenses bombardearam pontos no sul do Líbano controlados pelo Hezbollah.
O Irã, por sua vez, continuou a advertir Israel que, se o conflito em Gaza escalar, as forças armadas iranianas podem se envolver diretamente.
“Se não cessarem as atrocidades em Gaza, o Irã não poderá ficar como simples observador”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Hossein Amirabdollahian, à TV Al Jazeera.
“Se o âmbito da guerra se ampliar, também serão infligidos danos significativos à América”, acrescentou, se referindo aos EUA.
A declaração surge um dia depois de Amirabdollahian se ter encontrado com o líder do Hamas em Doha, no Catar.
No sábado, os EUA anunciaram o envio de um segundo porta-aviões para a região, com o objetivo de “dissuadir ações hostis contra Israel ou quaisquer esforços de ampliar esta guerra.”
O fim de semana foi ainda de bombardeios israelenses em aeroportos da Síria.
Fronteira Gaza-Egito, onde brasileiros esperam
A fronteira de Gaza com o Egito também virou um ponto de tensão e de pressão.
Milhares de palestinos e imigrantes de outras nacionalidades, incluindo brasileiros, estão tentando deixar Gaza pela fronteira de Rafah, controlada pelo Egito, no sul, mas ela segue fechada.
Neste sábado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou com o presidente AP, Mahmoud Abbas. Segundo o petista, a conversa buscava apoio para a saída de brasileiros da Faixa de Gaza, ainda que a ascendência de Abbas no território controlado pelo Hamas seja bastante limitada.
Segundo o governo brasileiro, 28 brasileiros e imigrantes palestinos esperam para ser retirados de Gaza. Ao todo, são 14 crianças, 8 mulheres e 6 homens adultos, dos quais três são imigrantes palestinos e três palestinos com residência no Brasil, segundo a última atualização citada pela Agência Brasil.
Segundo nota da Presidência da República, Lula “condenou os ataques terroristas contra civis em Israel, reforçou a importância de um corredor humanitário e da libertação imediata de todos os reféns.”
De acordo com o comunicado, Lula disse que “os inocentes em Gaza não podem pagar o preço da insanidade daqueles que querem a guerra.”
Até este domingo, centenas de brasileiros que estavam em Israel foram retirados por meio de cinco aviões enviados pelo governo.