Soldados e veículos blindados assumiram o controle da emblemática praça por algumas horas e entraram no Palácio Quemado, antiga sede do governo, no que o presidente boliviano Luis Arce descreveu como uma “tentativa de golpe de Estado”.
“Aqui estão as forças armadas com o seu povo”, disse o general.
“Estamos ouvindo o grito do povo. Porque há muitos anos uma elite toma conta do país. Donos do Estado, os vândalos estão nas diferentes estruturas do Estado, destruindo a pátria. As Forças Armadas pretendem reestruturar democracia.”
Algumas horas depois, e após a desmobilização do militares na Plaza Murillo, Zúñiga foi preso — após acusar Arce, diante das câmeras, de ter realizado um “autogolpe” para aumentar sua popularidade.
Na terça-feira (25), o general Zúñiga foi destituído do cargo de chefe do Exército boliviano após algumas declarações na televisão, nas quais se opôs fortemente ao ex-presidente Evo Morales.
Zúñiga afirmou que estaria disposto a prender o ex-presidente e que o Exército defenderia “a todo custo a Constituição e os grandes interesses do país”.
O controverso ‘general do povo’
Juan José Zúñiga Macías foi nomeado comandante-geral do exército boliviano em novembro de 2022 e confirmado em janeiro deste ano pelo presidente Luis Arce.
Antes disso, Zúñiga ocupou o cargo de chefe do Estado-Maior. Ele tem vasta experiência militar e é especialista em trabalho de inteligência.
O jornal boliviano El Deber o definiu como “o general do povo”, devido à sua proximidade com os setores mineiro e sindical.
No passado, porém, ele enfrentou acusações de ter desviado $ 2,7 milhões de bolivianos (cerca de R$ 2,2 milhões) de fundos públicos quando era chefe de um Regimento de Infantaria.
Um suboficial acusou-o em 2013 de lhe ter ordenado o desvio dos recursos, que se destinavam a financiar pensões, apoio escolar e despesas de viagem dos militares. Por esse motivo, foi punido com sete dias de prisão.
Em 2022, o general Zúñiga foi mencionado por Evo Morales como líder de um grupo dentro do exército que supostamente realizava “perseguição permanente” a líderes políticos como ele, os “Pachajchos”.
Segundo ex-militares e o próprio Zúñiga, os “Pachajchos” são um grupo criado durante o último governo de Evo Morales e que se dedica ao trabalho de inteligência militar.
Morales deixou o poder em 2019, após uma revolta militar que se seguiu ao primeiro turno das eleições presidenciais. Ele então deixou o país com o apoio do México, mas retornou quando Arce levou o partido Movimento ao Socialismo (MAS) de volta ao poder.
Entretanto, Arce e Morales, outrora aliados, têm tido uma disputa política nos últimos meses sobre o futuro do MAS e a tentativa do ex-presidente de concorrer a um novo mandato.
Em diversas declarações públicas, Arce já disse ser alvo de um “golpe suave” que visa “encurtar mandatos”, e por trás do qual estariam os seguidores de Morales.
Por sua vez, o ex-presidente denunciou que Arce, ao assumir a liderança do MAS, tentaria minar as suas aspirações a uma nova candidatura presidencial.
Paralelamente, a Bolívia enfrenta uma grave crise econômica devido à falta de combustível e à escassez de divisas. Isto gerou mobilizações sindicais pelas quais Arce culpa Morales.