Uma mulher que supostamente inspirou a personagem Martha no drama de sucesso da Netflix Bebê Rena está processando a plataforma por difamação, negligência e violação de privacidade.
Fiona Harvey, uma advogada do Reino Unido que afirma que Martha é baseada nela, argumenta em um processo aberto em um tribunal da Califórnia nesta quinta-feira (06) que a Netflix contou “mentiras brutais” sobre ela para mais de 50 milhões de telespectadores em todo o mundo.
A Netflix ainda não respondeu a um pedido de posicionamento feito pela BBC.
Harvey também refuta ter agredido sexualmente o criador do programa, de acordo com os documentos judiciais, que alegam que a Netflix “contou essas mentiras e nunca parou, porque era uma história melhor do que a verdade, e histórias melhores deram dinheiro”.
Em uma cena da série, a personagem Martha é retratada agredindo sexualmente o protagonista na beira de um canal, à noite.
Em declarações à BBC News na quinta-feira, Harvey disse estar certa de que a Netflix perderia o caso.
“Não tenho dúvidas disso. Caso contrário, não estaríamos fazendo isso. Achamos que vamos vencer”, disse ela.
O primeiro episódio da série afirma que se trata de uma “história verdadeira”.
Os créditos finais dizem que a série “é baseada em eventos reais: porém, certos personagens, nomes, incidentes, locais e diálogos foram ficcionalizados para fins dramáticos”.
Ao prestar depoimento perante o Comitê de Cultura, Mídia e Esporte no Parlamento no mês passado, o executivo da Netflix Benjamin King disse que o programa era “obviamente uma história verdadeira do horrível abuso que o escritor e protagonista Richard Gadd sofreu nas mãos de uma perseguidora condenada”.
Gadd, um comediante, escreveu e protagoniza a série sobre sua suposta experiência de ser perseguido por uma mulher que conheceu no pub onde trabalhava.
Ele não é citado como réu no processo aberto por Harvey.
Nas redes sociais, Gadd já havia pedido aos espectadores que evitassem tentar identificar Martha, a personagem que ele descreveu pela primeira vez em uma comédia de stand-up.
Nem os nomes reais de Gadd nem de Harvey são usados na série.
Harvey se identificou como a mulher retratada como Martha na série; a Netflix e Gadd não confirmaram isso.
O processo movido por Harvey alega que a Netflix “não fez literalmente nada” para confirmar se a história de Gadd era verdadeira antes de criar a série.
“[A plataforma] Nunca investigou se Harvey foi condenada, uma deturpação muito grave dos fatos”, afirma a acusação.
“Não ajudou em nada a compreender a relação entre Gadd e Harvey, se é que existe alguma. Não fez nada para determinar se outros fatos, incluindo uma agressão, a alegada perseguição ou a condenação, eram exatos.”
Richard Roth, advogado residente em Nova York que representa Harvey, disse à BBC News na quinta-feira que possui “provas documentais incontestáveis” que provam que sua cliente nunca foi condenada por um crime.
O processo inclui uma imagem com a verificação de antecedentes e um certificado que afirma que Harvey não tem condenações criminais em seu histórico.
Martha, a personagem de Bebê Rena, é retratada como uma perseguidora condenada que mais tarde é presa depois que o personagem de Gadd a denuncia à polícia.
Roth acrescentou que “não há dúvida” de que a identidade de Harvey foi usada na trama de Bebê Rena.
Harvey, que mora no Reino Unido, diz que, desde que a série foi lançada em abril, foi vítima de inúmeras ameaças de morte.
A experiência deixou-a “com medo de sair de casa ou de ver as notícias”, afirma o processo, acrescentando que a advogada “se tornou extremamente reclusa e isolada, com medo do público, passando dias sem sair de casa”.
Em uma entrevista de quase uma hora com o jornalista Piers Morgan no mês passado, Harvey confirmou que conheceu Gadd em um pub em Londres.
Mas ela negou ter agido como a personagem Martha, que envia 41 mil e-mails ao personagem de Gadd e deixa 350 horas de mensagens de voz.
“Nada disso é verdade. Acho que não enviei nada para ele”, disse ela.
“Não, acho que pode ter havido alguns e-mails trocados, mas foi isso. Apenas e-mails de brincadeira.”
O processo alega, no entanto, que diálogos reais que ela teve com Gadd, com um tuíte que ela enviou a ele em 2014, são usados na série.