* Esta é uma versão atualizada de um texto originalmente publicado em 19 de abril 2017.
Neste artigo da série da BBC News Brasil sobre dúvidas de português, o professor Pasquale Cipro Neto dá dicas de como evitar um erro bastante comum.
Os leitores Pedro Renan, Thayná, Glauco, Murilo e Israel perguntaram sobre o uso correto dos pronomes demonstrativos (este, esta, isto, esse, essa, isso, aquele, aquela, aquilo…).
Pasquale explica que há mais de um emprego para eles – são usados para indicar lugar e posição, para se referir a tempo e desempenham papel essencial na coesão do texto.
Lugar
De acordo com o professor, o uso mais básico e tradicional é aquele que indica a posição do próprio falante ou a posição de algo em relação a ele.
Se o falante quiser se referir aos próprios óculos, que estão consigo, deve dizer: “estes óculos”.
Se quiser indicar os óculos que estão com a pessoa com a qual está falando, deve dizer: “esses óculos”.
Mas se a intenção for se referir a óculos que não estão nem perto dele e nem perto da pessoa com quem está falando, deve dizer “aqueles óculos”.
Outro exemplo é o caso de falante estar na cidade de São Paulo, mas conversando pelo telefone com um amigo que mora em Curitiba sobre alguém que mora em Olinda.
Ele dirá “esta cidade” para se referir a São Paulo, onde ele próprio está, “essa cidade” para se referir a Curitiba, local da pessoa com quem está conversando, e “aquela cidade” para se referir a Olinda.
Tempo
O professor explica: “Nesta semana” é a semana que está em curso. “Nesse mês” é o mês que já foi citado. “Neste domingo” pode ser o domingo que está em curso ou o domingo que está para chegar, domingo da semana em que se está.
“E que não pode ser assim um mês muito distante. Não me pergunte qual é o tamanho dessa distância, a coisa é meio subjetiva. Se eu for falar de uma passagem bíblica, por exemplo, eu vou falar ‘naquele tempo’, ‘naquele’, lá longe”, diz Pasquale.
“Eu até poderia dizer ‘nesse tempo’, mas, quando se trata de um tempo muito distante, eu vou dizer ‘naquele tempo’, ‘naquele ano’, ‘naquele período’”, acrescenta.
Coesão textual
“O mais importante mesmo é lembrar o papel desses pronomes no texto, na coesão textual”, afirma o professor.
Para se referir a algo que já foi dito no texto ou na conversa, deve-se usar “esse”, “essa”, “isso”.
Exemplo: “O Copom resolveu reduzir a taxa de juros. Essa decisão já era esperada pelo mercado”.
O pronome “essa” se refere à decisão citada antes, sobre o Copom.
Para se referir a algo que será citado, deve-se usar “este”, “esta”, “isto”.
Exemplo: “A decisão do Copom é esta: a taxa de juros foi reduzida”.
O pronome “esta” se refere à decisão que ainda será anunciada.
“Então o pronome ‘este’, o pronome ‘esta’, o pronome ‘isto’ anunciam. O pronome ‘esse’, o pronome ‘essa’, o pronome ‘isso’ retomam, recuperam”, conclui Pasquale.
Outro caso
Há outro caso, usado em frases que citam duas pessoas.
Exemplo: “O delegado interrogou Pedro e Paulo. Este negou a versão, aquele confirmou”.
O pronome “este” se refere ao mais próximo, ao citado mais recentemente. Nesse caso, é o Paulo. “Aquele” se refere ao mais distante, ao anterior – no caso do exemplo, Pedro.
Reportagem: Paula Reverbel